Como ter sucesso na globalização de uma startup? Especialistas explicam
Como ter sucesso na globalização de uma startup sem perder sua essência inicial? Essa é uma dor constante de startups que estão prestes a internacionalizar. Aaron McDaniel, empreendedor em série e professor da Haas School of Business da UC Berkeley, e Klaus Wehage, ex-chefe de relações internacionais do Silicon Valley Forum, compartilharam dicas para globalização no novo livro “Global Class – How the world’s Fastest Growing Companies Scale Globally by Focusing Locally”.
Os cofundadores do 10X Innovation Lab, uma empresa global de consultoria em inovação, e da Global Class, uma empresa de consultoria, foram os convidados internacionais do Bossa Meet, um evento exclusivo da Bossanova Investimentos, e apresentaram alguns pontos fortes do lançamento.
Motivação para escrever o livro
Os empreendedores afirmam que, depois de anos trabalhando no ecossistema, apoiando mais de 2 mil fundadores de mais de 50 países, perceberam que existia uma grande dificuldade no crescimento e expansão internacional. “Vimos empresas cometendo os mesmos erros o tempo todo e percebemos que não havia livros que abordassem esse tema. Pode até existir, mas são muito fragmentados. Então, pesquisamos o mercado e construímos um manual para empresas que estão escalando internacionalmente”, afirma Klaus sobre globalização.
Erros comuns na globalização
Para produzir o livro, os empreendedores entrevistaram mais de 400 executivos de mais de 50 países e perceberam erros similares. Eles explicam que algumas empresas e startups, principalmente no início, tentam nascer globais e estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Primeiro, é preciso validar e escalar em um mercado.
Porém, pensar globalmente desde o primeiro dia é fundamental. Ao contrário das Legacy Companies, que têm um viés de mercado doméstico, as Global Class Companies constroem seus produtos, equipes, processos e cultura empresarial de maneiras que podem ser localizadas e universalizadas.
Um exemplo citado pelos especialistas é a BlaBlaCar, que, em vez de construir um negócio codificado para a França – onde foi fundada -, a empresa implementou a estratégia “construindo para dois mercados” e considerou o mercado francês e espanhol. Foram levadas em consideração as diferenças entre os idiomas para a interface do usuário do aplicativo, os regulamentos de cada país e as diferenças culturais. Isso não significa lançar em dois mercados ao mesmo tempo, mas considerar vários mercados para que fosse mais fácil expandir para outros países.
De entrepreneur para INTERpreneurs
Na pesquisa dos empreendedores sobre globalização, eles perceberam um ingrediente em comum: interpreneur – um empreendedorismo internacional – e hoje usam esse termo para nomear o crescimento global bem-sucedido das empresas. “Acreditamos que uma mentalidade interpreneur se tornará o conjunto de habilidades mais procurado na próxima década”, afirma Aaron.
O que foi percebido é que os “Interpreneurs” compartilhavam uma mentalidade em comum, o que resultou na escalabilidade global de seus negócios. É como uma pirâmide de três camadas. A primeira é a mentalidade ágil – uma mentalidade empresarial antiga que aborda a compreensão, colaboração, aprendizado e flexibilidade para alcançar resultados rapidamente e com alto desempenho. A segunda é a mentalidade da empresa. E no ápice da pirâmide está a mentalidade da cultura, curiosidade cultural, mentalidade global, sensibilidade cultural e empatia.
Os empreendedores citam Abe Smith, chefe internacional da Zoom, como exemplo de um “Interpreneur”. Depois de viver sua infância e juventude na costa leste dos Estados Unidos, Abe ensinou inglês em uma pequena vila de pescadores japonesa. Essa experiência colocou sua carreira em uma trajetória totalmente nova. Ele trabalhou em uma startup que foi uma das primeiras a vender bagels – um produto de pão tradicionalmente feito de massa de farinha de trigo fermentada na forma de um anel – no Japão e foi adquirida pela Quaker Oats. Em seguida, assumiu funções de negócios internacionais para empresas americanas, chegando à Zoom.
“Achamos que ele aplica sua mentalidade cultural à crescente presença global da empresa. O crescimento de negócios em novos mercados geralmente é uma experiência solitária. As empresas com aspirações de escala global devem estimular ativamente indivíduos que demonstrem uma mentalidade ‘Interpreneur’”.
Metodologia Agile não funciona num contexto de globalização
A metodologia Agile revolucionou o desenvolvimento de produtos, a construção de empresas e a inovação corporativa. Mas, segundo especialistas, o método em sua forma pura não funciona em um contexto multinacional. “Encontrar o modelo certo em um único mercado é uma coisa, mas fazer isso em vários mercados leva a uma confusão de diferentes modelos operacionais”, explica Aaron.
Aaron explica que a chave do sucesso para entrar em novos mercados é a localização, enquanto o sucesso para alcançar escala global é administrar a inevitável complexidade do processo de localização. A complexidade costumava ser uma reflexão tardia para muitas empresas que priorizavam a velocidade, mas ao serem lançadas em outros países, elas se deparavam com algum obstáculo e precisavam interromper seu crescimento para recomeçar e recriar uma base para dar suporte à escala global. “Por isso desenvolvemos a metodologia ‘Agile’ global de duas etapas”, afirma.
Na primeira etapa, as empresas usam o Business Model Localization Canvas da Global Class para traduzir seu modelo atual em hipóteses de como o negócio operará no novo país. Isso pode ser testado depois de passar por dois filtros: regulamentação governamental e cultura. Por exemplo, muitos países exigem legalmente que as empresas internacionais tenham uma parceria de joint venture local.
A segunda etapa envolve o rastreamento de localizações usando a Análise Premium de Localização. Este modelo ilustra o grau de mudança necessário para ter sucesso em um novo mercado. A estrutura mostra uma rede de 6 pontas, sendo as três principais localizações relacionadas ao mercado (Marketing, Vendas e Prêmios de produtos) e as três últimas localizações operacionais (Prêmios de infraestrutura, administrativos e organizacionais).
Fonte: www.startupi.com.br