Investimento em startups de impacto se mostra bom negócio após 5 anos
Investir em startups em estágio inicial e que trazem impacto socioambiental positivo para a sociedade é um bom negócio. Essa é a conclusão de relatório recente do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), que alocou, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), R$ 2,8 milhões em 16 startups de diferentes setores entre 2017 e 2018.
O indicador é inédito para o ecossistema de investimentos e negócios de impacto no Brasil.
“Perto de 80% do valor emprestado vai voltar, o que é uma vitória porque metade das startups morrem depois do terceiro ano de vida”, diz Beto Scretas, consultor sênior do ICE. “Chegaremos ao final do processo com algo entre 12 e 14 empresas vivas e gerando impacto na ponta.”
O programa começou em 2017, quando o BID doou US$ 1 milhão para o ICE, organização que se dedica a fortalecer o setor no país. Na época, havia escassez de recursos e condições atrativas para financiar negócios com soluções inovadoras e tecnológicas e com potencial de impactar positivamente as pessoas e o planeta.
“O apoio está alinhado com a Visão 2025 do BID, que coloca a promoção da economia digital e o apoio a pequenos negócios entre os pontos centrais para a recuperação econômica na América Latina e Caribe”, afirma Anita Fiori, especialista líder de financiamento privado do BID.
As 16 startups selecionadas no programa atuam em setores diversos: saúde, educação, habitação, tecnologia para governos, gestão de resíduos sólidos, desenvolvimento rural, redução de risco de desastres e inclusão financeira.
Cada uma recebeu entre R$ 150 mil e R$ 200 mil, com dois anos de carência e cinco para pagar, a uma taxa de juros Selic cumulativa de 2%. Até o momento, seis pagaram a dívida completamente e outras seis estão pagando em dia, três renegociaram e uma não pagou.
“Fizemos um empréstimo inédito e arriscado, mas nossa tese era de que valia a pena apoiar, ICE e BID são dois investidores pacientes”, diz Scretas, executivo que atuou por anos no mercado financeiro tradicional.
Uma avaliação do Idis – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social sobre o programa apontou que “mesmo nos empreendimentos em que o valor aportado era suficiente para cobrir apenas poucos meses de despesas operacionais, o financiamento foi essencial para superar o conhecido ‘vale da morte’ das startups.”
Além do capital semente, o ICE ofereceu mentorias, conexões, acesso a mercados e monitorou o impacto gerado pelos negócios.
Em 2021, mais de 2,3 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade social foram beneficiadas. Caso da Movva, startup de educação que ajudou a motivar 800 mil estudantes da rede pública de São Paulo; do Programa Vivenda, que reformou casas populares para 2,5 mil pessoas, e da VerBem, que realizou 30 mil consultas oftalmológicas e doou 2.500 óculos.
“Mais importante que o investimento foi o carimbo do BID e do ICE nos reconhecendo como negócio de impacto para o mercado”, diz Ralf Toenjes, CEO da Renovatio/VerBem.
O executivo que venceu o Prêmio Empreendedor Social de Futuro em 2017 conta que o apoio do ICE durante o processo foi fundamental no momento de crescimento da startup. “As monitorias, conversas e a rede que o time nos ofereceu ajudaram demais quando estávamos pivotando o negócio.”
“Fomos construindo teses de impacto junto com os empreendedores, que assumiram o compromisso de mensurar indicadores e conseguiram levantar outros recursos com investidores profissionais”, afirma Scretas.
Outro fator de sucesso apontado pelo relatório é o fomento ao ecossistema de impacto brasileiro. Com o retorno do investimento ao caixa do ICE, desde dezembro de 2020, outros 21 negócios receberam apoio.
Foram R$ 920 mil emprestados via plataformas de empréstimo coletivo e outros R$ 140 mil em um fundo de crédito privado.
A previsão do ICE é de investir R$ 2,4 milhões em capital filantrópico em cinco anos em todo o território nacional, privilegiando incubadoras, aceleradoras, universidades, hubs de inovação e outros produtos financeiros.
Para Scretas, a confirmação de que o investimento em startups de impacto social é um bom negócio já é um movimento global. “A pandemia e a urgência climática conquistaram corações e mentes e o impacto social foi adicionado à equação de investimentos, ele definitivamente entrou em cena.”
Fonte: www1.folha.uol.com.br