A escassez dos profissionais de tecnologia no Brasil e seu consequente impacto no ecossistema de startups
*Por André Barrence, Diretor do Google for Startups para a América Latina
Milhares de profissionais chegam ao mercado de tecnologia todos os anos, mas ainda assim existe uma escassez de pessoas para trabalhar no setor, que só aumentará com o passar dos anos. O contexto, que é global, afeta todos os agentes do ecossistema de inovação, desde as empresas tradicionais até as startups. A pergunta é: quais fatores motivaram, ao longo dos anos, a existência desse cenário?
É nisso que se concentra o relatório “Panorama de talentos em tecnologia”, realizado pelo Google for Startups, com apoio da Abstartups e da Box 1824. O estudo mapeia atentamente os principais desafios que estão relacionados à escassez destes profissionais na área.
Para as startups, o desafio na contratação desses profissionais é ainda maior: 92% das startups que foram ouvidas pelo estudo acreditam que faltam profissionais de tecnologia no Brasil. A concorrência com grandes empresas nacionais e internacionais torna a competição por talentos qualificados mais acirrada. Menos atraentes e com menor potencial de retenção de profissionais, as startups entendem que um dos principais efeitos dessa lacuna de talentos é o atraso no crescimento de seus negócios, o que, em um universo competitivo como o de inovação, pode ser uma questão de sobrevivência.
Os principais desafios mapeados
Quando falamos em um gap de talentos, não nos referimos apenas a uma lacuna isolada, mas a várias delas que, em conjunto, resultam em um grande déficit. Por essa razão, entender a raiz das principais questões que o permeiam, e não apenas as suas consequências, é essencial para trabalhar em soluções assertivas.
Além de detalhar a questão da falta expressiva de profissionais qualificados para atender à crescente demanda, o estudo destaca outros dois desafios presentes no mercado de tecnologia: a senioridade desses profissionais e a homogeneidade de talentos do setor:
Senioridade
Ampliando a lente sobre essa falta de profissionais, vemos que há uma lacuna ainda
mais profunda de pessoas em níveis seniores e hiper especializados. 65% dos que responderam à pesquisa acreditam que faltam profissionais mais experientes e capacitados para atender, de forma independente, as necessidades e desafios que surgem no cotidiano das startups. Além disso, 84% das startups ouvidas acreditam que o mercado brasileiro não desenvolve o número de profissionais seniores que deveria.
Mercado de talentos homogêneo
O mercado de tecnologia no Brasil é bastante homogêneo e pouco diverso, com profissionais altamente concentrados na região sudeste, sendo 43% apenas no estado de São Paulo. Além da barreira regional, há ainda mais obstáculos para grupos politicamente minorizados, como mulheres e pessoas negras, que se deparam com ainda menos incentivos ao longo de suas jornadas, o que acaba por desestimulá-las e afastá-las do mercado de tecnologia. Dos entrevistados para o relatório, 50% consideram o mercado de tecnologia totalmente ou muito homogêneo em relação à raça, classe, religião e gênero, enquanto apenas 15% o consideram totalmente diverso.
Para além desses desafios, existe ainda a questão da fuga de talentos. Os profissionais que são especialistas buscam e são alvos constantes de melhores oportunidades e salários, principalmente fora do país. O cenário é uma consequência da falta de estrutura e referências no setor que levam à descrença na possibilidade de carreira e que desvalorizam o mercado de tecnologia brasileiro, tornando-o menos atrativo para profissionais estabelecidos ou recém-formados. No relatório, 73% concordam que existem condições mais atrativas internacionalmente, esvaziando o mercado nacional. Outros 60% dizem que a remuneração no mercado brasileiro não é competitiva comparada a mercados internacionais.
Para além do trabalho de identificação das lacunas, o relatório traz uma reflexão sobre possíveis caminhos, de curto, médio e longo prazo, que possam levar a soluções duradouras que contribuam para concretizar o potencial do mercado de startups no Brasil.
Fonte: www.blog.google